"Entre Culturas: A Jornada de Matias Maldonado"

10-10-2024

Matias Maldonado, estudante na UFP, participa de entrevista para a disciplina de Jornalismo Político | Créditos: Autora
Matias Maldonado, estudante na UFP, participa de entrevista para a disciplina de Jornalismo Político | Créditos: Autora





Matias Copo, um jovem de 21 anos oriundo de Quito, Equador, reside no Porto há dois anos, onde está a concluir a licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Fernando Pessoa, no Porto. Em entrevista, Matias partilha as suas motivações para estudar em Portugal, as expectativas em relação à experiência académica, os desafios que enfrenta, e os seus planos para o futuro. Partilhou connosco um pouco de si: revelou como se adaptou a uma nova cultura e como considera Portugal a sua nova casa.

Uma vez atravessado o oceano atlântico...

Matias, o que o trouxe a Portugal?
R: De grosso modo, o ensino e a qualidade de vida. Desde que comecei a planear a minha trajetória académica nunca considerei de facto prosseguir com o ensino superior no Equador. Sempre existiu dentro de mim a vontade de procurar experiências profissionais e pessoais fora do meu país de origem. Avaliei várias opções, como França e Espanha. No caso de Espanha, apesar da proximidade linguística, sabia que o ambiente estaria saturado de equatorianos, algo que eu procurava na verdade evitar. Aquilo que orientou, e continua a orientar, as minhas decisões quanto ao meu percurso enquanto estudante e futuro profissional, é a busca pela experiência do multiculturalismo. Tendo tudo isto em conta, a escolha de Portugal tornou-se particularmente viável devido à presença de uma empresa no Equador que dá apoio burocrático aos estudantes que desejam estudar em cá. Isto acabou por ser uma excelente alavanca para mim e outros colegas no mesmo cenário.

"Desde que me conheço que queria sair da minha zona de conforto"

Quais eram as expectativas em relação a estudar no Porto? Foram cumpridas?
Quando cheguei a Portugal, em 2022, as minhas expectativas pessoais giravam em torno da busca por experiências com o mundo "lá fora", e a interação com culturas diversas. Nesse sentido, o Porto tem sido uma agradável surpresa: é uma cidade acolhedora, segura e cosmopolita. Contudo, em relação à componente académica, sinto que vim com expectativas que não foram cumpridas: gostaria de ter tido acesso a mais atividades na universidade, como palestras, conferências e debates. Acho que o currículo do 1º ciclo de estudos de CPRI na UFP poderia integrar mais componentes práticas, ao invés de se basear predominantemente num modelo teórico de ensino. Sinto que nos falta contacto com o terreno e com o mercado de trabalho, para o qual nos preparamos.

"O sentimento de cumprimento de expectativas é misto: como indivíduo sinto que tenho vivido aquilo de que vim à procura, a cultura está em todo o lado. Já como estudante, sinto que os estímulos são insuficientes"

Há alguma experiência menos positiva que gostasse de partilhar?
Bom, no início, tive que enfrentar a barreira linguística, que embora ténue dada a proximidade entre o espanhol e o português, afetou a minha capacidade de comunicação. Embora tivesse tido aulas de português no Equador, a realidade no terreno é diferente daquilo que nos é passado em sala de aula: quando no terreno, há que lidar com sotaques e ritmos de fala distintos, em diferentes zonas do país. No entanto, como sou uma pessoa adaptável, consegui superar essa dificuldade. Reconheço, no entanto, que estudantes menos proativos podem ter maiores dificuldades no que diz respeito à língua, o que vi acontecer de perto com colegas também oriundos de países de língua espanhola. Acho que há uma certa expectativa, que acaba por ser recíproca, de nós termos facilidade de nos entendermos com poucas ou nenhumas limitações, e esta assunção pode, por vezes, levar-nos a criar "bichinhos" quanto às comunidades migrantes de falantes de língua espanhola para Portugal, e vice-versa. Considero no entanto que é algo contornável e de fácil resolução se de facto nos quisermos integrar, como é o meu caso.

Quais os planos para o futuro?
Uma vez terminada a licenciatura, pretendo prosseguir com um mestrado em Portugal, ainda não decidi se será no Porto ou em Lisboa, mas certamente continuarei a minha formação académica cá. Para mim, a educação é um pilar fundamental, e sinto que o ambiente português é propício para isso.
Paralelamente ao meu percurso no ensino superior, tenho um objetivo claro: fazer a minha vida na Europa. Obter residência permanente é, portanto, uma meta importante. Identifico-me profundamente com os valores europeus, como a diversidade cultural e a inclusão, e vejo em Portugal uma oportunidade de investir na minha carreira e contribuir para a sociedade. Desejo integrar-me ativamente no mercado de trabalho europeu, aplicar os conhecimentos que venha a adquirir ao longo da minha formação e, se possível, trazer uma perspectiva multicultural que enriqueça a convivência entre países.

"A minha escolha de continuar os estudos em Portugal reflete não apenas um desejo de conquista profissional, mas também o meu compromisso com a construção de uma vida digna e significativa na Europa"

Podemos afirmar que Portugal é agora a sua casa?
Sim, sem dúvida. Nos últimos dois anos, construí um novo círculo de amigos que se assemelha a uma nova família para mim. Estas pessoas são agora o meu núcleo, tornaram-se uma parte fundamental da minha vida e são um pilar de apoio nos momentos mais desafiantes. Sinto-me verdadeiramente em casa em Portugal, e a conexão que tenho com esta minha nova família faz-me sentir que pertenço a este lugar. Faço questão de visitar minha família no Equador pelo menos a cada seis meses - são encontros especiais que valorizo, mas, atualmente, considero Portugal o meu lar. A cultura, a hospitalidade das pessoas e as experiências que venho vivendo fazem-me sentir enraizado aqui. É uma sensação maravilhosa saber que, embora eu tenha uma base no Equador, consegui ir à procura de mais e efetivamente encontrar um espaço com o qual me identifico e que posso chamar de meu.

"Construí um novo núcleo familiar e prospeções para o meu futuro, que penso apenas na Europa conseguir atingir"
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